Caso Letícia Mello alerta para o impacto psicológico à vítimas de erros em procedimentos estéticos
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Para a psicóloga Renata Silva, caso da neuropsicopedagoga endossa que homens e mulheres precisam entender que seus valores vão além da aparência física
O Brasil ocupa a segunda posição no ranking dos países que mais realizam procedimentos estéticos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. De acordo com dados levantados pela pesquisa global da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2023 foram realizadas cerca de 35 milhões de procedimentos estéticos no mundo todo, dos quais 3,4 milhões feitas no país.
Com crescimento estimado de 12% em relação ao ano anterior, os números registrados refletem também, no aumento de erros cirúrgicos, que passaram a ser constantes nos últimos tempos. Com exemplo, na última semana, quando mulheres denunciaram um cirurgião após relatarem lesões causadas por procedimentos estéticos realizados pelo profissional, em Florianópolis, Santa Catarina, entre ele, o caso da neuropsicopedagoga Leticia Mello, que teve deformação em diversas partes do corpo e a perda de um dos seios.
Segundo a psicóloga Renata Silva, mulheres que passam por experiências traumáticas em procedimentos estéticos podem sofrer uma série de impactos na saúde mental. Ela pontua que esses traumas podem desencadear transtornos como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), além de baixa autoestima e distúrbios relacionados à imagem corporal.
“Muitas vezes, desenvolvem uma relação disfuncional com o próprio corpo, sentindo repulsa ou vergonha, o que pode levar a paciente ao isolamento social e dificuldades em se reconectar emocionalmente com os outros. Existe também o risco de um ciclo de autocrítica severa, que dificulta o processo de recuperação psicológica”, explica a especialista.
Com atuação no mercado há quase uma década, a psicóloga atesta que Letícia Mello enfrentou um impacto psicológico devastador após um procedimento estético, resultando em depressão e pensamentos suicidas. “O relato dela expõe a dor profunda causada pela desconstrução da identidade corporal, forçando-a a lidar com emoções desconfortáveis como vergonha, raiva e culpa. Esse é um processo extremamente difícil, que demanda uma rede de apoio sólida” ressalta Renata Silva.
“Quando Letícia afirmou em uma reportagem: “senti nojo do meu corpo”, ela revelou um pensamento automático negativo, que, em um ciclo de autocrítica, pode levar a comportamentos de evitação e isolamento. Esses pensamentos reforçam a ideia de que seu corpo está “defeituoso”, gerando emoções de vergonha e rejeição. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) atua justamente para interromper esse ciclo, ajudando a paciente a reconstruir uma visão mais positiva e de aceitação de si mesma”, complementa a psicóloga.
A especialista que é referência no tratamento da obesidade, transtornos alimentares e no processo de emagrecimento, seguindo o protocolo de Oxford destaca que apesar do trauma, a vítima demonstrou uma impressionante resiliência ao compartilhar sua história e alertar outras mulheres, tendo transformado sua dor em uma mensagem de conscientização. “Ao afirmar ‘é um desejo de ficar viva’, ela expressa sua conexão com a vontade de superar o trauma e ressignificar sua vida. Esse movimento a tira da paralisia emocional e a coloca em um caminho de cura”.
“Letícia, assim como muitas outras mulheres, precisa entender que seu valor vai muito além da aparência física. Praticar autocompaixão alivia a pressão e a culpa, abrindo caminho para uma verdadeira cura emocional. Ao validar os sentimentos de Letícia, reconhecemos sua força e legitimidade em buscar justiça. Sua dor é real e jamais deve ser desconsiderada. A aceitação, neste caso, não é passividade; é uma fonte de força e transformação, permitindo que Letícia ressignifique sua história e retome o controle de sua vida”, finaliza.